sexta-feira, 28 de junho de 2013

Post Extraordinário

Interrompemos nossa programação esporádica para anunciar que esse blog será "arquivado" por tempo indeterminado, mas eu juro por Deus que é por um bom motivo.

Nós estamos grávidos!

Então né, a obsessão com o assunto tomou conta da casa e do cérebro...aí eu comecei outro blog  mais específico, de conversas minhas com o Feijão, pra documentar esse período "interessante" da vida e matar o filho de vergonha quando ele for mais velho.

Aviso com carinho que estou escrevendo em inglês, porque minha cabeça está funcionando assim e saiu assim, desde o começo. Provavelmente escreverei em português em algum momento, mas não "agarantio" nada.

Se vc quiser dar uma olhadinha, pode entrar e ficar à vontade!

Hey Baby Hey Baby Hey

Muito obrigada pela audiência neste meu canto! =)

sábado, 15 de junho de 2013

Vendo de fora

Eu sou coxinha. Confesso. Classe média, burguesinha, medrosa, coxinha. Eu sempre disse que o Brasil precisa implodir e começar de novo, que não tem solução. Eu acredito que manifestação é inútil, um bando de vândalo achando que vai mudar o mundo. Eu sinto vontade de bater a cabeça na parede quando penso na "atual conjuntura" e gostaria que todo mundo que conheço saísse do país e viesse me fazer companhia, deixando o Brasil pros vagabundos, pros marginais, pros criminosos. Eu acredito também que é minha culpa, culpa da minha geração de coxinhas, que nunca reivindicou nada, que é nossa culpa que estamos nesse estado de calamidade. Eu fui ensinada a respeitar autoridade e sou feliz em saber que a polícia existe pra nos proteger.

Eu acompanho as notícias do Brasil com fervor e até quarta-feira, conversava com meus pais e chamava os manifestantes de São Paulo de vândalos, criminosos, com razão, porque destruir propriedade alheia é de tamanha maldade e falta de caráter, que anulava qualquer outra causa, afinal, protestar contra o aumento da tarifa causando danos aos transporte é, no mínimo, contraproducente. Eu sou coxinha e estava incrédula da vida, como sempre fui.

Aí chegou a quinta/sexta-feira e eu passei o dia acompanhando a manifestação, os relatos, a violência da polícia e a surrealidade de tudo acontecendo sem motivo, ali na porta da minha casa, em ruas onde andei muito, cujos buracos e lojas eu conheço na palma da mão. Eu senti na minha carne a ferida da cidade onde nasci. Ferida não pela população, mas pela mão pesada e sem compaixão da Polícia sob ordem.

Eu fiquei com medo, de repente, não da manifestação, mas da Polícia. Fiquei com medo da Polícia. Medo da minha mãe estar passando, do meu irmão, do meu pai, da minha tia, minha cunhada, todos que moram ali, deles estarem na rua e serem atingidos não pelos manifestantes, mas pela tropa de choque. Medo da Polícia maltratar minha família.

Então, depois de um dia de sofrimento e conflito, em Sp e aqui dentro de mim, eu deixei de ser coxinha e passei a ter esperança, passei a acreditar que a minha geração de coxinhas finalmente desengasgou e vamos tentar melhorar, pro futuro ser um pouco melhor.


Porque essa pra mim foi a gota d'água que transbordou o copo. Eu aguento a falta de caráter, a corrupção, o trânsito, o que eu infelizmente não posso controlar. Mas não aguento e não permito, que a Polícia seja a vilã da livre-expressão. Não posso entender, no meu país, na minha cidade, ter medo de falar o que penso, de tentar mudar, de tentar melhorar, e ter que ter medo. Medo da Polícia. Medo de ser preso por carregar vinagre. Medo de ser preso por querer melhorar a vida de todos.

(Em tempo, a generalização é absolutamente corporativa, a entidade que a Polícia estava ali representando, as ordens que receberam e tiveram que cumprir. Conheço policiais, são a minha família, e são pessoas do melhor calibre possível, a quem confiaria minha vida.)

 E se eu estivesse hoje em SP, participaria do próximo evento e vaiaria a Presidenta, sem pudor e com orgulho. Porque a gente pode aguentar muita coisa, mas não vou ficar parada enquanto o medo tira a minha liberdade de expressão. Não é mais só por $0.20, é pra não ter mais medo.


Brasil, ame-o ou deixe-o. Eu o deixei, mas ele nunca me deixou.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Inesquecível

Já em casa, com o cachorro rodeando, o sol se pondo às 21h30 e um calorzinho gostoso, resolvo colocar no "papel" o que vai ficar comigo depois dessa passagem relâmpago pelo Brasil...Como diz minha mãe, minha memória é prodigiosa: esqueço com uma rapidez que é um prodígio, melhor escrever pra posteridade.

Esse post então vai ser meio assim sem eira nem beira, meio sem conexão, meio meu.

Ah, e se por acaso do destino você passar por uma papelaria que venda a agenda Livro da Tribo de 2013, abra na página do dia 23 de setembro. Eu sou oficialmente uma autora publicada hehe...


      Chorar no avião chegando no Brasil, só porque. Os esperados abraços. A cara da cunhada quando ela viu o Rô. O abraço do sobrinho também surpreendido, do cunhado. O calor da água no Guarujá, a sobrinha com medo do mar, o caranguejinho na concha encontrada na praia, a concha viva. A feijoada. A ceia de Natal, o bolo de mel com pedaços de cravo, o peru, os presentes. A missa de Natal com a Mô depois de tanto tempo, a chuva torrencial e o marido esperando na saída com o guarda chuva e chinelos. As dificuldades das amigas que a gente não fica sabendo lá de longe. Querer levar todas embora comigo, levar o irmão também. Comer costela com velhas amigas novas, conhecer pessoalmente quem já me conhece tão bem, trocar lembrancinhas, cupcakes. Happy hour com amigos de sempre, descobrir como anda a vida. Águas de São Pedro continua a mesma, o café novo tem uma lasanha deliciosa, tomara que dure, a Zuleika ainda faz bombom de morango, o calor morno constante envolvente, andar de shorts, queimar a perna com limão, cortar o cabelo curtinho, poder participar do aniversário da melhor amiga e se sentir em família, mesmo depois de anos sem vê-los. Fazer manicure com florzinhas lindas, comer tapioca da sogra, show de MPB delícia dos amigos. Poder estar com a família toda no mesmo lugar ao mesmo tempo, sem drama. Relaxar, ver a vida acontecer.

A praia cheia, milhares de pessoas no supermercado, fila pra tudo, sol e chuva, a luz que acaba no dia 31 às 19h pra ninguém se arrumar demais pros fogos, água de coco e milho no potinho com kit. Trânsito, trânsito, everywhere trânsito. Fazer mandinga, pular 7 ondinhas, guardar a semente de romã. Amigos amigos, everywhere amigos! Discussões, conversas, risadas, churrascos eternos.
Conhecer bebês lindos, dar presentes pros sobrinhos, comer comer comer, beber caipirinhas variadas, não comprar quase nada pq não cabe na mala. Tentar ver todo mundo e não dá. Ter que se despedir mais uma vez.




Dubai.
O deserto, o pôr do sol no deserto, a areia cor de canela com açúcar, as palmeiras, as tâmaras, o shopping maior do mundo, o prédio mais alto do mundo, as lojas que só vi em sonho, o espaço e os espaços vazios da cidade ainda criança, os camelos muito maiores do que pensei, o motorista-guia do passeio, andar de camelo, fazer tatuagem de henna, jantar no acampamento, no chão com almofadas, o beduíno com o falcão, show de dança do ventre e a moça não faria feio na bateria da Vai-Vai, new zealand butter no café da manhã, shisha, os motoristas malucos, a fila pra pegar táxi, a união com o tiozinho pra não deixar dois folgados furarem a fila, conhecer a família do tiozinho, ele mais 5 mulheres - filha, esposa, irmã, etc., ter medo de andar de mão dada, as moças de burka, as lojas de burka e o ouro abundante, a sensação de ser menos, o metrô com vagão gold e outro só pra mulheres e crianças, a comissária da Emirates com quem sentamos no metrô e que depois fez nosso check-in no aeroporto, almoçar no The Cheesecake Factory só por causa da Penny, a blusa de Onde está Wally?, o Aquário com arraias bonitinhas, o Underwater Zoo com o aquário do Nemo e o pão-de-alho-do-mar. A marcação na janela e no teto do hotel sinalizando Mecca, os sinos durante o dia. O surrealismo fantástico de estar ali, num lugar que mal me dei o direito de imaginar, estar ali com o marido e ser mais feliz do que o mundo.

Sobrevoar a Tailândia e descobrir beleza na terra permeada de água. Ficar com raiva de passar tantas vezes pela segurança dos aeroportos, mas a moça em Bangkok tinha o cabelo em trança, a trança-flor mais difícil de fazer. Sobrevoar Sydney e ver a Ponte e a Ópera. Assistir milhares de filmes no avião, ser os primeiros a entrar e os últimos a sair. Filas intermináveis no aeroporto em Dubai. O pacote de boas-vindas organizado, Mr & Mrs MazziottiMacario assim tudo junto. Conversar com as comissárias, comer chocolate no avião, beber vinho e apagar, viajar de pijama, ter a minha shisha linda confiscada educadamente na alfândega na NZ, fazer as malas com peso perfeito. Assistir o vídeo de segurança da Emirates 8 vezes. Se surpreender, pois como uma viagem tão cansativa pode ser tão inesquecível?


 





















Chegar em casa, apertar o gato carente, trançando nas nossas pernas. Ir buscar o cachorro e ter medo que ele nos esqueceu, só pra ser derrubada numa avalanche de alegria quando ele nos vê.  Ser derrubada por uma avalanche de felicidade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Estar de férias

Eu estou escrevendo esse post diretamente do meu quarto de solteira, na casa dos meus pais, em São Paulo, SP, Brasil sil sil e pra piorar, hoje começa oficialmente nossa última semana de férias.

Essas férias começaram diferente. Nós compramos passagens, coagidos e subsidiados por mamis e papis, em agosto, mas na mesma hora decidimos que haveríamos de surpreender alguém com a nossa presença. A escolhida foi a cunhada, que é incansável na sua luta de nos ver e abraçar. Só que né, com a globalização da informação, era praticamente impossível surpreender a cunhada que mora em Águas de São Pedro se qualquer pessoa de Águas de São Pedro soubesse que estávamos indo, porque ela é imensamente popular e querida. Fui boicotada do Facebook e do blog também, nem aparecia nas ligações do Skype pra não explodir de segredo. Tive que mentir pra ela que amo, pros outros irmãos e pra muita gente nesses últimos meses, mas só de ver a reação dela e o choro em cadeia no Guarujá o dia que finalmente aparecemos lá, eu acho que eu não vou pro Inferno por essas mentirinhas. Meus pais sabiam, meus amigos de SP sabiam e foram avisados pra não abrir o bico, a sogra soube e não abriu o bico, a operação "Vamos Matar a Sandra do Coração" deu certinho no final!



Essas férias foram curtas, sem o frenesi de antecipação e com Natal e Ano Novo familiares no meio, e muita gente nem soube que estávamos aqui até que o momento de ir embora apareceu na esquina. Nós viemos na surdina e vamos embora com muitas deliciosas lembranças.

Nós trouxemos presentes e muitos planos de ver, fazer, acontecer e tentar lembrar que estamos de férias onde todos estão na rotina. Descansar e recarregar com amor e amigos, comer, beber, não cobrar nada de ninguém. Viemos também com a intenção de não julgar, não comparar e esses falharam miseravelmente. Como não querer que o lugar onde mora o seu coração seja melhor pra todos? Como não desejar pra todos a vida calma que levamos?

Outro planos falharam igualmente. Ao invés de correr atrás da renovação da carteira de habilitação, corremos atrás de sorveteiro na praia. Tentamos visitar todo mundo, mas também corremos do agito e bebemos água de coco. Conhecemos Joanas e bebês lindos, mas outros vão ter que ficar só em fotos. Matamos a vontade de sorvete Kibon e a saudade de ser só filha e filho. Consertamos chuveiros, faróis do carro, cabelos feios e unhas mal-cuidadas. Passamos calor - pelamordeDeus, quem guenta? - Fomos muito ao supermercado, demos risada até dobrar, jogamos os planos feitos pela janela e eles devem estar até agora lá na praia, escaldados. Usamos shorts curtos sem dó e tomamos sol na sombra, pq na NZ sol faz mal e isso eu não esqueço nunca. Fomos no dentista que é o castigo das férias e fizemos algumas comprinhas que não sou de ferro.

Faremos na volta uma escala rápida em Dubai, um dia só, uma chance única de colocar o desconhecido na nossa história e expandir o nosso mundinho. Nossa chance de relembrar ser marido e mulher depois de ser filho, filha, irmão, tia, bff, nossas férias das férias pra voltar à realidade.

Como sempre, nos surpreendemos ao sentir no calor dos abraços, a saudade que deixamos pra trás e o amor que nunca acaba. E mais uma vez soubemos que o tempo aqui passa tão rápido, nunca vai ser suficiente pra tapar os buracos, alcançar as conversas ou substituir a lonjura das escolhas que um dia fizemos.

Aproveito pra pedir desculpas se não conseguimos nos encontrar, eu juro que estava nos planos e se pudéssemos, teríamos alugado um helicóptero pra ir mais rapidamente de um lugar pro outro.

Meu plano agora é não chorar muito no aeroporto, mas pelo histórico da viagem....num sei não.




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Culpa e responsabilidade

Acordei hoje e encontrei no Facebook uma avalanche de fotos e protestos e reclamações sobre a depredação do Aeroporto de Cumbica feita pela Gaviões da Fiel durante a despedida do Corinthians rumo ao Japão.

A notícia está aqui ó: notícia

E aí eu passei a manhã inteira remoendo esse assunto, matutando, pensando, até que não aguentei mais e tive que vir aqui escrever, então perdão se eu digressar um pouco, mas pensei bastante e tenho muito o que dizer sobre esse assunto do qual particulamente não sou fã.

Fã. Fanático. Hum.

Eu nunca fui fã, nunca fui torcedora e sinceramente, até hoje tenho dificuldade em entender a regra do impedimento, apesar das muitas tentativas do pai corintiano. Porém contudo todavia, entendo perfeitamente o torcedor e a relação dele com o time. Só que no meu vocabulário tem outro nome. Se chama "religião". E como qualquer religião, tem quem siga, tem quem goste, tem quem nem ligue e tem o fanático. Você torce/ reza/exorciza os demônios, você presta atenção na missa/jogo/culto, você dá seu rico dinheirinho pra comprar banco pra igreja/entrada do estádio/carro novo pro pastor, você espera que um poder superior ouça suas preces/coloque a bola na rede/corte seu cabelo, mas na verdade você tem ZERO controle sobre o resultado. Na alegria ou na tristeza.

ZERO. E é essa "questã" que me deixa bastante irritada. Na religião, você reza pra um poder superior que é invisível e tem fé que o Invisível vai fazer alguma coisa pra você não passar fome, mas racionalmente sabe que no final das contas, quem vai na padaria buscar o pão é você e o dinheiro pra pagar o pão saiu do seu bolso. Total controle sobre o resultado, certo? Você poderia, inclusive, comprar um pão doce de chocolate com banana e ser feliz, que ninguém iria te impedir.

No futebol (e no esporte em geral), além de rezar e/ou torcer, você aí, sentadinho na frente da tv, não tem nenhum controle. Sinto lhe informar, mas a sua meia fedida que não é trocada desde 1984 porque dá sorte, não dá sorte coisa nenhuma. Quem tem sorte não é você, nem o time. É o jogador, o milionário que está lá TRABALHANDO, correndo que nem um tonto com uma bola no pé. É só deles a culpa e a responsabilidade pelo resultado do jogo. O salário milionário que você aí, da meia fedida, direta ou indiretamente está pagando.

Repito, ele está lá trabalhando. Esse é o emprego dele. Não é vocação dos padres, não é dedicação de professor, não é amor à camisa (pfff...), é amor ao dinheiro que paga as contas dele. Se ele é bom e se ele é feliz, ponto pra ele, só pra ele. Por algum acaso vc faz torcida pro carinha de TI quando ele vem consertar seu computador? Ou chora quando a moça da padaria sai da padaria pra trabalhar na farmácia? O milionário do carrão, o seu bezerro de ouro, não está fazendo mais do que a obrigação contratual dele, como eu, você e o cobrador do ônibus. Largue a mão de ser tonto você também e vai cultuar o carinha do TI que você ganha mais.

O meu ponto é: se os jogadores - e o clube - tem a responsabilidade de ganhar ou perder e se o torcedor é o bem mais importante do time segundo eles próprios, por que até hoje a lei não colocou em cima dos clubes a responsabilidade de mudar essa mentalidade neandertal de "quebrar tudo na alegria ou na tristeza" ?

QUEBROU, PAGOU. Se alguém tem dinheiro aí no Brasil, são os grandes times de futebol, as torcidas organizadas e a CBF, certo? Tem que ser lei, tem que ser praticada e tem que ser todo dia e toda cadeira do estádio e todo papelzinho de bala no chão. Nao dá pra eles quererem lotar o estádio ou fazer um acordo trilhardário de publicidade e depois tirar o bundão da reta e falar que o "torcedor não é minha responsabilidade". É sua responsabilidade sim, dentro e fora do estádio, enquanto o energúmeno está torcendo e falando em nome do time, com ou sem camiseta. Por que o medo de botar a culpa no bois certos?

E se a língua que todo mundo entende é a lingua do bolso, por que não mostrar pro energúmeno torcedor que, se ele não sabe controlar a sua frustração de não ter controle sobre o resultado do time, se ele não sabe controlar o instinto primal de quebrar o caminhãozinho do colega no parquinho, se ele quer bater no cidadão por causa da cor da camisa, se ele é grandinho o suficiente pra sair de casa sem fralda mas quer quebrar a estação de metrô que ele usa por que o time perdeu ou ganhou (haja terapia no mundo pra ensinar a lidar com as emoções..), ele vai ter que pagar.


Deve-se criar uma campanha clara e popular, financiada pela CBF com apoio e incentivo das torcidas, com os bezerros de ouro jogadores explicando, em português claro e chulo se necessário, que pra cada cadeira, cada cone, cada extintor de incêndio novo que a CBF tiver que pagar, o preço do ingresso vai subir. O preço da mensalidade da torcida organizada vai subir. O preço da camiseta oficial vai subir.O preço do metrô vai subir. O preço do cachorro quente na porta do estádio vai subir. E que a culpa, meu amigo, é SUA. É do torcedor, da massa anônima e sem rosto. Não me importa que você, da meia fedida, não fez nada, estava em casa comendo o que sobrou do pernil do almoço e coçando a picada de pernilongo na perna. Pode reclamar à vontade.

Da próxima vez, alguém vai denunciar o cretino que começou a briga, que pegou o tijolo, que xingou a mãe alheia. Por que está mexendo no meu bolso, no seu bolso, no presente de Natal do netinho que mal e mal tá dando pra parcelar.

Ou da próxima vez, ao invés de xingar o outro no facebook ou pela janela, você não vai falar nada, pq eu Maria Fernanda, não estava dentro do campo correndo que nem tonta atrás da bola, logo, eu Maria Fernanda, tenho ZERO controle sobre o que aconteceu, com ou sem meia fedida.

Coragem, o Brasil precisa de coragem, de clareza, de transparência e de responsabilidade. E aprender a lidar com as frustrações da vida.


P.S. Esse assunto me deixou tão nervosa e com tanto a dizer que tive até que optar por não dizer o quanto um país pode aprender do esporte. E como pode ser diferente sim, sem violência, mesmo que o esporte em campo seja o mais físico possível. Como o rugby.





segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A falta que faz...

um lazarento.
Em todo o meu conhecimento da língua inglesa, não há nenhuma palavra que possa substituir satisfatoriamente o "lazarento".
Tem umas que servem, é mais ou menos igual, você me diz. Mais ou menos igual, é assim que a gente se acostuma com a vida.

"Saudade" é mais ou menos igual a "I miss you heaps". "Criatura!!" é mais ou menos igual a "Man!" ou literalmente "creature", mas não tem a mesma força expletiva. "Minhanossasenhoradochuveiroelétrico", demoraria mais pra explicar o contexto do que pra achar uma expressão mais ou menos igual. Como traduzir a "fartura" da geladeira?? O português é mais emocional, mais expletivo, mais rico e criativo, o inglês é preciso, simples, fácil de ser reduzido e comido pelas novas gerações, poucas palavras significam tantas coisas que eu me pego perguntando se eles tiveram preguiça de inventar mais substantivos e resolveram se virar com essa meia dúzia mesmo.

Em compensação, a recíproca é também verdadeira e apesar de todo o lirismo do português, uma ou outra palavra faz falta. "To yearn", verbo que significa desejar profundamente, é muito mais profundo, muito mais intenso que "desejar" ou "querer". É um desejo que vem de vidas anteriores, dos recônditos da alma, de amores perdidos.

Li um artigo uma vez que dizia que a nossa língua principal dita a maneira como vemos o mundo mais profundamente do que imaginamos, por exemplo, se "cadeira" é um substantivo feminino, tendemos a ver a cadeira como um objeto "menina" e utilizamos adjetivos que reservaríamos a mulheres.

A minha mente é uma confusão infinita de inglês e português e eu me preocupo com a minha geração, que já é bilíngue desde o útero, como vemos o mundo, como nossos filhos verão o mundo. Seremos capazes de utilizar duas línguas para suprir buracos em cada uma, buscar no inglês o que falta no português e vice versa? Que língua falará o mundo em duas ou três gerações? Se pai e mãe falam português, mas a criança nasceu na NZ,  qual é sua língua materna? Qual o método de ensino dessa criança? Por que "sale" é mais bonito que "promoção" na vitrine? Quem disse? Por que o teclado do meu computador involuntariamente volta pro inglês se eu insisto em usar cedilhas??

Enfim, eu me preocupo com essas questões de ordem mundial, mas no fundo no fundo, sei que pra lazarento, não há tradução. De vez em quando faz falta um lazarento.



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dia dos namorados


Ontem foi dia dos namorados ai no Brasil e isso tornou a internet um poço sem fim de slides melosos, logo, eu fui subliminarmente induzida a escrever esse post. (OBS: caso vc tenha reparado na existência de acentos e cedilhas, eu peguei meu laptop de volta e estou feliz da vida. Obrigada Darryn de Ashburton!)

Dia 1 de julho nós faremos 7 anos de namoro "corrido". Soma-se a isso mais uns 18 meses separados e 6 meses do namoro inicial, dá uma bela porção de tempo que somos um casal. Nunca fomos um casal mais ou  menos, indeciso, em cima do muro. Tenho a impressão que casamos no banquinho da avenida em Águas de São Pedro numa noite enluarada muitos milênios atrás.

A fase de grandes gestos e declarações de amor passou, assim como passou a insegurança, o ciúmes, a distância.  Nós não lembramos mais quem ganhou o que de presente ou mesmo se ele me deu flores no dia dos namorados, no natal, no aniversario, já passaram tantos que perdemos as contas. Agora contamos em horas o tempo que falta pra sermos mais.

Tanta distância já percorremos, ele no volante, conversando sobre "e se"s da vida. E se eu tivesse desistido de voltar pra Águas? E se ele nunca nem tivesse pensado em cozinhar? E se antigas paixões reaparecessem? Será que a vida se encarregaria de encontrar-nos de novo, lá pra frente, casados, cansados, infelizes?

Não há paixão arrebatadora que dure para sempre, mas há chama que nunca se apaga, de madeira dura, sólida, perfumada, sábia, madeira que contrói esse amor calmo e tranquilo. Seguro.

Eu sei que ele me ama porque quando estou no presa no trabalho ele lembra de gravar The Big Bang Theory e 2 Broke Girls pra que eu assista depois. Quando eu estou comendo aveia de manhã, ele me lembra de tomar um café, senão vou ficar com dor de cabeça. Quando ele se desdobra em oito pra me fazer uma surpresa e comprar um pingente pra minha pulseira, mas a vendedora da loja liga pra confirmar a entrega e ele fica bravo, porque eu atendi o telefone.

Ele sabe que eu o amo, porque faço um sem-fim de consultas médicas e telefonemas pra ter certeza que o dedão do pé dele não vai cair. Porque agora compramos mais vegetais e frutas do que bolachas e chocolates no supermercado. Porque nunca falta roupa limpa e almoço pronto. Porque eu nunca encosto meus pés gelados nele quando entro na cama à noite. Porque eu entendo tudo o que ele diz em conversas totalmente mudas.

Porque no dia dos namorados nós voltamos pra casa e sem muito discutir, concordamos em jantar mistos-quentes e enquanto ele fazia os sanduíches, eu fazia a salada e nos encontramos na coca-cola, como uma dança bem ensaiada, coreografada com risadas e discussões, musicada com uma composição totalmente inédita, uma harmonia milenar, confortável e linda.

Assim eu sei que ele me ama, como eu sei que o amo com tudo o que há dentro do meu coração.

Porque nós nos casamos há milênios atrás, num banquinho da avenida em Águas de São Pedro com a lua como testemunha, mas seremos sempre namorados.

Amo você, meu amor. Muito muito.