Olhando assim, vc nunca imaginaria que eu gosto de rugby, joguinho calmo, tranquilo e pacífico:
E eu juro que não é (só) por causa disso:
(Perdoa meu Pai do céu, pq o maridão já desistiu)
Se bem que as camisetas justas e que às vezes rasgam em campo - vide Sonny Bill Williams - ajudam bastante a audiência feminina a permanecer colada na tela durante os 80min de jogo.
O que eu quero contar hj é que ontem à noite, enquanto o maridão dormia, eu estava sentada no sofá. Sentada é modo de dizer, pq não consegui ficar só um segundo parada: dava nó nas pernas, nó nas mãos, mordia a mão, levantava, agachava, ajoelhava, rezava, resmungava, e no final, dançava Ilariê com o cachorro. Juro por Deus.
Eu acompanhei a copa, assisti todos os jogos do All Blacks, torci e fiquei irritada, brava mesmo, quando ouvi brasileiro por aqui torcendo contra.
Porque não tem como torcer contra os moços de preto. Eles são a epítome, a soma do sentimento de uma nação que acorda cedo no sábado pra levar os filhos pro treino. Eles não têm salários milionários, não tem 19 anos e cabelo estranho, não fazem filhos com moças de reputação questionável.
Eles são leais. Dedicados à camisa preta e aos 4 milhões de pessoas que a vestem. Não trocam de time a cada 5min e não agem como se o sol nascesse nos seus umbigos.
Pense você que um dos jogadores estrelas do time, Dan Carter, first-five (ele é o carinha que chuta todas as bolas no gol), o Ronaldinho do rugby kiwi, se machucou uma semana antes do primeiro jogo e foi cortado da seleção.Convocaram Cruden, que tb se machucou ontem e Donald, que uma semana antes disso tudo tava pescando na beira do rio e ontem fez o gol que ganhou a partida. Uma semana antes. Dan Carter está nesse momento desfilando com o time vencedor.
E eles ganharam assim mesmo. Porque todo jogador que veste a camisa preta sabe o que se espera dele. Se espera todo o espírito e a força que ele têm pra dar e ele sabe que faz
parte de uma coisa muito especial. Desapontar a torcida, essa que agorinha mesmo, está na rua comemorando, não é opção, o jogo não é negócio, é coração. Não existe falta de entrosamento da equipe, não existe estrelismo, não existe pseudo-celebridade, carro importado, drogas, pseudo-superioridade.
Existe só o esporte.
Rugby é um jogo de contato e eu me espanto, porque com tanta adrenalina e tanta força, não existe violência. Duas coisas totalmente diferentes, venho a aprender. É um jogo cheio de emoção, tática e respeito pelo adversário e pelo juiz, autoridade máxima em campo. Esses jogadores aqui são atletas,são bons moços, são os melhores do mundo.
Levar a bola até o outro lado do campo. Fácil em teoria, difícil no gramado, com 15 trogloditas bem treinados vindo na sua direção. Fazer um gol entre dois postes gigantes e bem separados. Fácil se vc é Piri Weepu e conquistou o mundo quando ganhou o jogo contra a Argentina. Ficar embaixo de 15 trogloditas tentando arrancar a bola da sua mão. Fácil se vc é Nonu e tem as chuteiras mais brilhantes do time. Correr como um condenado, fugindo dos trogloditas previamente mencionados. Fácil se vc é Corey Jane, Aaron Cruden ou Corey Smith.
Levar o time à vitória. Levantar a taça. Sorrir tímido depois disso tudo.
Fácil se vc é Richie McCaw e tem um país inteiro do seu lado.
Eu estou vendo agora, agorinha mesmo, na tevê, a diferença principal entre o rugby da NZ e o futebol do Brasil. Aqui, quem ganha e perde são os All Blacks e o povo. No futebol, são os jogadores e seus salários e os técnicos. O povo é espectador.
Aqui o povo está dentro do estádio e divide com o time a emoção, porque eles são "os nossos meninos".
We are forever Backing Black. You did us proud, boys.
P.S. A última vitória da seleção kiwi numa copa do mundo foi em 1987.
O placar do jogo All Blacks X France foi 8 - 7. One point is all it takes to win.